CONTATO IMPROVISAÇÃO: Notas oficina do Ray Chung (por Márcio Baraco)

 

Marina, Yiuki, como vocês sabem fui pra Porto Alegre no Sulemcontato e foi muito bom. Depois a gente conversa mais sobre isso, e tem várias coisas que são mais fáceis de mostrar do que de escrever, mas algumas idéias que o Ray Chung passou tem a ver com coisas que a gente andava trabalhando e vou tentar passar um pouquinho por email mesmo.

 

tensegridade

O Ray está atualmente trabalhando com essa idéia de tensegridade. É um termo da arquitetura, significa integridade obtida através de elementos esticados. Por exemplo, uma bexiga: A borracha é mole, mas a bexiga tem uma forma. Quando alguma força empurra um ponto da bexiga, toda a estrutura da bexiga reage. A mesma idéia é usada em domos geodésicos e outras estruturas parecidas. E no corpo, a fascia produz uma estrutura com tensegridade também.

Por isso, essa imagem do esqueleto sustentando o corpo e todas as outras partes de alguma forma penduradas no esqueleto está errada. Faz mais sentido dizer que o nosso corpo é uma estrutura com tensegridade e que os ossos ficam suspensos nessa estrutura. É exatamente o que acontece com a omoplata, por exemplo, mas os outros ossos também se ligam na mesma estrutura. Inclusive segundo o Ray até mesmo os ligamentos são também um tipo de fascia. Os ossos flutuam na fascia!

A partir disso trabalhamos small dance , que o Ray diz ser a base do CI pra ele, tentando perceber a energia armazenada na estrutura. Fizemos também um exercício como uma small dance de dois, tocando as testas e tentando fazer a tensegridade de cada corpo se misturar com a do outro corpo, em alguma medida tornando ambas uma mesma estrutura.

Outra idéia é a de alcançar: Alcançar o chão, o espaço, a outra pessoa que dança. Esse alcançar não é só levar a mão na direção, mas envolver o centro do corpo nesse alcançar. Assim você pode alcançar com as 6 direções do corpo, e alcançar a partir de todos os seus apoios. (Como cada um estende o braço para alcançar, com os dedos estendidos ou com a mão relaxada?) Alcançando o chão, dançando com o chão como o seu primeiro parceiro de dança. Curiosamente alcançar o chão nos levou bastante para cima. Outros exercícios trabalharam esse alcançar enquanto sustentado pela estrutura do corpo de um parceiro. Girar e espiralar sobre um apoio base, e alcançar o chão para facilitar a descida.

Alguém perguntou (acho que a Carol) sobre o que alguém que está sustentando outra pessoa pode fazer para ajudar ela a estar bem em cima. O Ray respondeu, de novo, a small dance. Ativar esses pequenos ajustes em reação ao movimento da pessoa em cima de você. Ele até chamou isso de under dancing.

Além de alcançar com toda a estrutura do corpo, tentamos também trabalhar a percepção usando a estrutura , escutando com as mãos e costas e com o corpo todo. Um exercício foi escrever sobre o corpo de uma pessoa de olhos fechados pra verificar se ela conseguia entender. Outro foi dançar com um dos parceiros de olhos fechados.

O último exercício proposto pelo Ray trabalhava um lado mais composicional, pra quem quer pensar o CI como uma forma de performance, por isso fizemos o exercício em quartetos, uma dupla dançando e uma assistindo.

Quando você está se movendo, a coisa mais fácil para alterar esse movimento é parar. A segunda mais fácil é repetir. E logo, uma forma (relativamente) tranquila de conseguir uma composição na improvisação é (tentar) repetir uma pausa. Daí o exercício: Num dueto, em algum momento achar uma pausa, prestar atenção na posição, depois recomeçar o movimento e tentar chegar novamente na mesma pausa. Isso pode acontecer de forma mais ou menos orgânica, igual. Outra coisa é que sem prática pode ser difícil lembrar a posição exata, mas mesmo assim algumas duplas chegaram a resultados bem legais, criando variações sobre o exercício, com mais de uma pausa, com pausas que tinham elementos parecidos mas com variações, e etc. Fiquei com a impressão de que esse é um exercício que dá pra trabalhar um montão.

 


Acho que era mais ou menos isso, ou melhor essa é a parte que eu estou conseguindo lembrar. Depois vou tentar escrever alguma coisa sobre as oficinas latinoamericanas, mas elas se misturaram na minha cabeça um pouco… Beijo pra vocês e tudo de bom.

Marcio Baraco

2 comentários:

  1. Amei as ideias!! Vai me ajudar muito no meu trabalho de Tcc. Beijos.

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