Fui questionado por Oberdan Piantino (organizador do projeto Cardume em Rede) sobre “O que é improvisação em dança e como relaciono a técnica de contato improvisação¹ dentro do meu fazer artístico da dança?” Compartilho com todos a minha reflexão sobre esses assuntos. Yiuki Doi
Para você, o que é Improvisação?
Por improvisação, entendo a elaboração de um movimento num intervalo de tempo muito curto. Possui a integração entre criação e intuição, aliada com todo repertório de informação e técnica que o dançarino possui. Os movimentos não são predeterminados, mas possuem intencionalidades que norteiam as suas escolhas, considerando todas as variáveis do ambiente (pessoas, arquitetura, objetos, figurino, plateia, etc.). Existem diferentes naturezas de intencionalidades para o improviso: às vezes a intencionalidade possui um aspecto estético e de composição; em outros momentos, sentimentos como a raiva podem nortear o dançarino; também podemos improvisar com ações físicas básicas como puxar, empurrar, rolar, ceder, etc.; há improvisos que derivam de uma partitura coreográfica predeterminada, mas a intencionalidade é desconstruir e reorganizar essa partitura original, aliando aspectos emotivos como satisfação, desejos, frustrações, etc.; existem improvisos com uma intencionalidade mais subjetiva e complexa, tal como dançar com o vulto imaginativo da amada que não se encontra mais. Dessa maneira, concluímos que existem inúmeras possibilidades de improviso em dança. E dentro desse leque, podemos criar um espetáculo de dança com várias sequências de improvisos, a dramaturgia da obra sendo instigada pelas cadências das intencionalidades. A improvisação em dança é interessante, pois provoca no público a curiosidade de compreender a intencionalidade dos movimentos e, dessa maneira, o movimento do performer é ressignificado pelo espectador. Assim, a cena com improvisação oferece potencial metafórico e imagético para o espectador. Existem vários fatores que contribuem para que uma dança seja poética, a improvisação é um dos elementos que podem contribuir para isso.
Para você, o que é Contact Improvisation? De que modo você diferencia o C.I. de outras formas de Improvisação?
Existem várias técnicas de dança, eu propriamente acredito que todas as técnicas são os meios da dança, não a finalidade da dança em si. Sempre lembro da diretora da desCompanhia de dança, Cintia Napoli, dizendo que técnica serve para nos libertar, não para nos aprisionar. Por isso, toda técnica serve para que se possa improvisar e encontrar novas lógicas que acionam o movimento particular do bailarino. Porém, algumas técnicas ajudam a improvisação no sentido de melhorar a propriocepção, a composição cênica e o movimento autoral do performer. Entre elas podemos citar o contato improvisação¹, body mind centering, view point, tuning scores, butoh, etc. Eu trabalho com o contato improvisação há cinco anos, porém, para o meu trabalho artístico, utilizo pouco o contato improvisação, pois penso que ele possui um enfoque de intencionalidade mais restrito que não supre, particularmente falando, a necessidade de comunicabilidade das questões que instigam a minha dança. Utilizo o contato improvisação para uma consciência corporal pessoal e como estilo de vida, pois ele é uma atividade de dança social e filosófica também. Apesar dele possuir o seu virtuosismo específico, creio que o seu diferencial em relação às demais técnicas está na generosidade e na escuta que é preciso na prática dessa dança, reverberando, assim, na maneira de viver dos praticantes de contato improvisação. As formas empregadas para organizar as jams², oficinas e festivais, dentro de uma cooperação e de uma ajuda mútua na comunidade de contato improvisação são específicas. Dessa maneira, o contato improvisação é uma dança que possui um caráter social e político muito forte, e creio que essas são as marcas relevantes dessa técnica que vem conquistando vários adeptos no Brasil.
Em que trabalhos, espetáculos ou aulas já tratou ou usou de improvisação?
Há nove anos sou um bailarino da desCompanhia de dança, a qual possui o improviso como uma das características de sua linguagem cênica. Todos os trabalhos da companhia possuem o improviso como elemento importante para a dramaturgia. Os espetáculos que participei na criação foram: “Input (Grupo, 2014)”, “IN-REAL acontecimentos poéticos” (Grupo, 2012), "sobre sujeitos, objetos e afetos (Grupo, 2012)", "Vozes do Outono" (Solo, 2011), “Feche os Olhos para Olhar (Grupo, 2010)” , “Lugares de mim (Grupo, 2008)”, “Ainda é rosa (Solo, 2008)” e “allsense (Grupo, 2005)”.
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