A síncopa é a ausência do compasso da marcação de um tempo (fraco) que, no entanto, repercute noutro mais forte. No livro “Samba o dono do corpo” o pesquisador Muniz Sodré define síncopa como “uma alteração rítmica que consiste no prolongamento de um som de um tempo fraco num tempo forte” (1998, p.25). Essa característica gera um vácuo rítmico, uma batida que falta, o qual incita o ouvinte a preencher o tempo vazio com uma marcação corporal (palmas, meneios, balanços, dança).
A síncopa também ocasiona uma “descontinuação” na seqüência rítmica, rompendo com a constância. Isso acontece quando desloca a acentuação, ou seja, uma nota usualmente tocado no tempo fraco é acentuada soando forte, assim, ela ocasiona uma sensação de algo inesperado.
Para lidar com o inesperado, o corpo na síncopa é um corpo no drible constante - “no faz que vai, mas não vai” - cheio de ginga. Segundo Sodré, o uso do sincopa para os negros escravos “Era uma tática de falsa submissão: o negro acatava o sistema tonal europeu, mas ao mesmo tempo desestabilizava, ritmicamente, através da síncopa ...” (Sodré 1998, p.25).
A pulsação marcada e cíclica dos ritmos das músicas africanas possuem relação com a cosmovisão e sua religião.
“O ritmo africano contém a medida de um tempo homogêneo (a temporalidade cósmica e mística), capaz de voltar continuamente sobre si mesmo, onde todo fim é o recomeço cíclico de um situação. O ritmo restitui a dinâmica do acontecimento mítico, reconfirmando os aspecto de criação e harmonia do tempo”. (Sodré 1998, p.19).
Sentir e perceber o ritmo é compreender o tempo e também a sua própria existência como ser humano no mundo. Assim, o ritmo é marcada no movimento por meio de pulso e balanço no quadril, tronco e pernas. O corpo dançado para a cultura africana não se dissocia da música, e este é um canal transmissor do axé - energia vital que toda a matéria e os seres vivos possuem - para com seus deuses. A música e dança, ou a dança e música, são categorias inseparáveis, onde uma depende da outra para existir e criar um sentido na vida.
Yiuki Doi
P.S.1 Anotações feitas para o trabalho de Interface entre Dança e Música da Graduação em Dança da UNESPAR (Março de 2017).
P.S.2 O livro “Samba, o dono do corpo” do Muniz Sodré é incrível. Uma leitura rápida e de custo acessível, mas potente em compreender a cultura de origem africana no Brasil.
Referências
- SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. 2. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
- MALLER, Ernani. A síncope fazendo a diferença no samba. 2010. Disponível em: <http://musistoria.blogspot.com.br/2010/01/sincope-fazendo-diferenca-no-samba.html>. Acesso em: 17 mar. 2017.
Muito interessante, podemos inclusive criar jogos rítmicos para sentir a síncopa no corpo a partir do som do instrumento
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